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O genocídio
quase-perfeito
O Filho do Povo Antigo
Anouar Benmalek
Nº
1012045
18,40
Euros
Lançamento Exclusivo
272 páginas
Capa dura em papel couché, impresso a cores
12,5 x 20,3 cm
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Três
conflitos, três histórias de guerra e violência num cruzar de destinos e
fugas à prepotência. Lislei assiste ao banho de sangue sobre a Comuna
francesa, Kader vive a revolta das tribos sarianas contra o colonialismo
francês e o pequeno Tridarir é o último dos descendente do Povo Antigo,
uma das tribos aborígene exterminadas entre a Tâsmania e a Austrália em
finais do século XIX.
Um livro de
injustiças. De lágrimas. De violências. De crueldades. Mas de amor.
Também de amor. Cruzando três percursos - a deportação de Lislei e de
Kader para a Nova Caledónia e a captura de Tridarir enjaulado como um
animal para ser vendido pelos ingleses - Anouar Benmalek constrói um
impressionante relato das misérias e sobrevivências daquelas que a
história tantas vezes silenciou ou esqueceu. O autor começa aliás pelo
invocar desse apagamento dos anais da história, esse “genocídio perfeito:
sem memória para as vítimas, sem opróbrio para os assassinos”.
Entre 1870 e 1919 e o autor, de origem argelina, mas com dupla
nacionalidade (argelina e francesa), constrói uma magnífica epopeia de
poderes e sobrevivências. Combinando um cru e duro olhar sobre a
intolerância e o racismo com uma manifesta denúncia das atrocidades
cometidas, Benmalek expõe a crueldade e excessos cometidas a coberto do
colonialismo francês na Argélia e pelas autoridades inglesas na
exploração da Austrália. Uma denúncia que nos conta ainda a humanidade,
o amor. Não apenas um amor amoroso, diga-se. O envolvimento “amoroso”
acontece de facto entre a francesa Lislei e o árabe Kader, sobrinho do
próprio Emir Abd El Kader. Mas o amor a que Benmalek se refere engloba
aqui a generosidade, a tolerância.
Deportados, tratados desumanamente pelos seus carcereiros, Lislei e
Kader conseguem ver o rapazinho assustado e envelhecido, com que se
cruzam em plena fuga para a Austrália, não como um animal raro, mas como
uma criança a quem a tristeza esgotou as lágrimas. Nesse cruzamento de
destinos e mundos, Benmalek conta os laços que ligam tão diferentes
personagens com tão diferentes línguas e credos. Interrompendo a sua
desenfreada fuga para ajudar Tridarir, Lislei e Kader reencontram,
afinal, vestígios da humanidade e generosidade que quase perdem
mergulhados no seu sofrimento e na sua dor. Salvando o rapazinho eles
salvam-se si mesmos do abismo do ódio.
Natural de Casablanca, Anouar Benmalek foi um dos fundadores, em 1988,
do Comité Argelino Contra a Tortura. Matemático de formação, jornalista
e acérrimo defensor da democracia na conturbada Argélia de finais dos
anos 80, Benmalek começa por visitar a temática da violência e das
diferenças culturias em «Ludmila» (1986), seguindo-se «L’amour Loup»
(1994) e «Les Amants désunis» (1998), com que obtém o Prémio Mimouni. Em
«O Filho do Povo Antigo» o autor visita os meandros da memória– uma
memória perigosamente apagada pela versão dos ditos “vencedores” da
História. Ao recuperar a figura do último dos descendentes do Povo
Antigo, habitantes da Droemerdeene, hoje designada Tâsmania,
reaviva-se a memória sobre um povo que não sabendo fabricar o fogo sabia
ainda ouvir os sonhos e as muitas vozes da natureza. Se Trinidar sabe
que ao morrer apaga para sempre os vestígios da existência desse povo, a
formação dessa família mestiça de diferenças sublinha a possibilidade de
entendimento entre diferenças... mesmo que para o Povo Antigo seja já
tarde demais. Um irruperável gesto de crueldade eliminou-os. Mas
Benmalek relembra-os fazendo-lhes, talvez, alguma justiça.
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